
Tecnologia, programação e sistemas são áreas de domínio de mulheres, sim, senhores. Reconhecendo a capacidade, o talento e as habilidades delas para o setor, o Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO) tem uma mulher, pela primeira vez, à frente da Diretoria de Tecnologia da Informação e Comunicações (Dtinf).
Alice Carla de Sousa Setubal, que representa as demais diretoras do Tribunal de Justiça, é bacharel em Ciência da Computação, pós-graduada em Gestão em Tecnologia da Informação e mestra em Modelagem Computacional de Sistemas.
Mesmo sendo servidora de carreira do TJTO desde 2011 e com ampla experiência na área de gestão de projetos, ela conta que se sentiu surpresa ao receber o convite da desembargadora Etelvina para comandar a área de TI do Judiciário tocantinense. “Fiquei muito feliz e vejo como um reconhecimento da gestão ao meu trabalho”.
Alice comanda uma equipe de 75 servidores, sendo que desses apenas 11 são do sexo feminino. Segundo a diretora, a quantidade de mulheres na área ainda é muito pequena, mas a qualidade do trabalho delas não deixa a desejar em nada em relação à atuação dos homens. “Acho que não tem que ter diferenciação entre homens e mulheres. Todos têm capacidade”, destaca. “O setor de TI é uma área desafiadora, mas nós temos ótimas analistas”, reforça.
Dificuldade
Há pouco mais de um mês no cargo, a diretora conta que não encontrou nenhum tipo de dificuldade por parte da equipe da TI do TJTO pelo fato de ser mulher, pelo contrário. Segundo Alice, foi bem recebida por todos.
Mas nem sempre foi assim. Ao longo dos mais de 20 anos de atuação na área, ela diz que já sofreu tratamento diferenciado pelo fato de ser mulher trabalhando num reduto até então tido como masculino. A diretora se lembra de já ter ouvido frases do tipo: “Nossa, você programa igual homem”. E diz que, na hora, não sabia se recebia como um elogio ou como uma expressão machista.
À sombra do preconceito
Antes de ingressar no TJTO, Alice trabalhou como programadora, analista, coordenadora e depois diretora de TI. Nessa época, ela cita outra experiência ruim quando, em uma reunião com fornecedores, sentiu um certo preconceito por parte de um deles, que quis insinuar que ela não teria conhecimento e capacidade para falar sobre um determinado contrato.
Desde a faculdade, Alice conta que já sentiu o desafio que teria pela frente. “É um curso que tem poucas mulheres. A minha turma, de 40 alunos, apenas sete eram mulheres e muitas desistiram”, enfatiza.
Coisa de homem
“Eu tinha um professor que falava que o curso não era para mulher. Eu escutava isso em todas as aulas dele”, cita, comentando que isso não foi motivo para fazê-la desistir. Tanto que concluiu o curso e, para a sua surpresa, no dia da formatura, o mesmo professor que dizia que o curso não era área para mulher, fez referência a Alice, declarando que ela o fez mudar seu conceito.
Nas suas memórias, também fala da mãe, que, segundo ela, a estimulou. Apesar de ainda existir preconceito, Alice diz que muita coisa já melhorou. Hoje, como diretora da Dtinf do TJTO, ela espera que mais mulheres assumam postos de liderança dentro do Judiciário, principalmente na área de TI.
“Acho que não tem que ter diferenciação entre homens e mulheres. Todos têm capacidade.”