
“Entrar no Tribunal de Justiça, na época, era um sonho pra mim. Eu tinha muita vontade de trabalhar aqui e sempre dizia isso para minha família: ‘eu vou passar no concurso do Tribunal’, destaca a técnica judiciária Eva Portugal de Sousa, servidora do Núcleo de Gerenciamento de Precedentes e Ações Coletivas (Nugepac) do TJTO. “Quando abriu o concurso, eu fiquei muito feliz”. Felicidade que transbordou com a aprovação dela no concurso que o Poder Judiciário do Tocantins realizou em 2004.
Cadeirante, Eva Portugal Sousa concorreu para vaga destinada a Pessoas com Deficiência (PCDs). Na época, segundo a servidora, foi a única aprovada no cargo de técnico judiciário.
Quando eu entrei (no TJTO), foi um sentimento de conquista, de capacidade, de que eu posso ir muito além. Eu sou capaz de avançar na minha vida, não me limitando às perspectivas das pessoas. Então, eu posso! Se eu me esforçar, o Senhor me ajuda, e eu posso, enfatiza.
Eva nasceu em Porto Alegre do Tocantins, Sudeste do estado, e mudou-se para Palmas em 2002. Ela tem dez irmãos e hoje mora com os pais e outras duas irmãs, sendo formada em Ciência Contábeis, pela Universidade Federal do Tocantins (UFT).
A aprovação no concurso do TJTO ocorreu durante o sexto período do curso. “Entrei em 2004, e muita coisa mudou”, conta a servidora, informando que desde que ingressou no concurso mudou de vários departamentos. “Comecei no protocolo, ainda na época do processo físico, então, era um número muito grande (de processos). Quando veio o processo eletrônico, mudou muita coisa, mudou a realidade, e aí fui para a Diretoria Judiciária, já em outra função”, ressalta, acrescentando que, posteriormente, foi para o Núcleo de Gerenciamento de Precedentes, onde trabalha desde 2014.
Como a nova função, Eva resolveu voltar para a universidade e se formou em Direito, pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Objetivo.
Há quase 20 anos no Judiciário tocantinense, realizando o sonho ainda de estudante, Eva diz que “viu muitas mudanças ao longo desse tempo, coisas muito positivas e significativas para a sociedade”.
A servidora é capa do mês de Abril do calendário institucional 2024. O produto, juntamente com a agenda, faz parte do kit comemorativo dos 35 Anos do TJTO e traz uma série especial com homenagens a pessoas que contribuíram para a construção da história da Casa de Justiça. As 11 histórias estão publicadas no site do TJTO e o acesso pode ser feito pelo QR Code disponível em cada mês do calendário.
Inclusão e acessibilidade
No começo, Eva diz que teve medo em relação à aceitação das pessoas, mas o sentimento foi apenas momentâneo. “Eu tinha um certo receio de não ser aceita, de não me adaptar com meus colegas de trabalho. Esse medo eu tive, mas ao mesmo tempo eu sentia que aquele medo não podia me barrar, que se eu me preocupasse com o olhar das pessoas, eu nunca ia conseguir fazer nada na minha vida”, enfatiza, lembrando que, quando tomou posse e começou a trabalhar, as pessoas a aceitaram. “Fui muito bem acolhida pelas pessoas que estavam em meu departamento. E aquilo mudou meu jeito. Eu comecei a gostar do que eu fazia, eu comecei a gostar das pessoas, e a ter um bom relacionamento com todos”, ressalta Eva, acrescentando que isso foi muito bom, foi acolhedor. “Eu me senti ainda mais apta a desempenhar minha função.”
Esse acolhimento também passa pela política de Acessibilidade e Inclusão que o PJTO tem implementado nestas mais de três décadas de existência. A evolução é perceptível não só para as pessoas com deficiência, como Eva, mas para quem precisa dos serviços do Judiciário tocantinense. “Em 2004, a acessibilidade predial era bastante diferente. Nós não tínhamos tantas facilidades como temos hoje. Com relação a banheiros, elevadores, então, hoje nós temos uma acessibilidade física, estrutural bem melhor do que naquela época”.
Reconhecimento
A preocupação do Judiciário com relação à acessibilidade e inclusão, em suas mais variadas formas, segundo a servidora, marcou sua trajetória de vida e profissional. É que, em fevereiro de 2018, ela foi convidada para fazer parte da Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão (CPAI) do Poder Judiciário do Tocantins.
Foi um momento que eu me senti ouvida, em que o Tribunal gostaria de ouvir como eu me sentia em relação à acessibilidade, então, foi um momento marcante para mim, que eu senti que eu era vista. E aquilo era importante não só pra servidores (as), mas também os jurisdicionados e todos aqueles que precisassem adentrar aos prédios do Judiciário e serem bem acolhidos com relação à acessibilidade. Aquilo me marcou.
Reconhecimento que a inspira a ir além. E por que não dizer ser inspiração para outras pessoas? “Todos nós somos capazes de inspirar pessoas, independentemente do que você passa, das suas limitações, então, nós podemos inspirar pessoas. E se o fato da minha história de vida, eu ter me esforçado, ter conseguido inspirar alguém, isso já é importante. Eu já vejo como um ponto positivo na vida de que a gente não pode se limitar ao olhar das pessoas, nós não podemos medir as dificuldades pelo olhar alheio. Nós temos que olhar pela nossa própria ótica e batalhar seguindo nossas forças e acreditando que a gente pode conseguir.”
Inspirar, participar, ouvir, ser ouvida, falar. Ações vividas e vivenciadas pela Eva nestes 20 anos como servidora do Judiciário tocantinense. “Dos 35 anos do Tribunal, eu participei de 20. Eu sinto que eu participei dessa história. Em muitas coisas eu pude contribuir, pude sugerir. Eu me sinto inserida, tive a oportunidade de ser ouvida, de desempenhar o meu trabalho, de mostrar que eu sou capaz, de que eu posso fazer. Eu penso que isso seja uma contribuição”, conclui.